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HARM-ONY de Marcela Levi e Lucía Russo [2019]

 

"HARM-ONY é um projeto de abertura: trabalhamos há 10 anos, continuadamente/insistentemente no Rio de Janeiro - com o apoio do Centro Coreográfico e do Consulado da Argentina no Brasil - sob o nome de Improvável Produções. “Improvável” porque trabalhar com arte no Rio de Janeiro, sobretudo hoje em dia, é algo que não está suposto acontecer, não é mesmo?
Esse projeto prevê a participação de artistas locais. A cada montagem a peça recebe um elenco diferente, quer dizer, forças, humores, intensidades e vibrações diferentes. A primeira montagem, viabilizada com a coprodução do fundo Iberescena Artes Escénicas Iberoamericanas/Funarte e o centro NAVE, aconteceu em Santiago do Chile. Em certo momento, durante os ensaios, uma artista chilena - Jesenia Oblitas - falou: “mesmo não falando a mesma língua, ainda assim é possível construirmos algo juntos” É disso que se trata HARM-ONY, de articular a diferença, a distância.

Esse curioso encontro das palavras "harmonia" e "dano" embala e instiga essa dança que se vira do avesso para abalar o "bem-intencionado" desejo de consenso das "pessoas de bem". Uma sociedade igualitária é aquela em que todos falam a mesma língua? Seria o consenso um ato, em última instância, autoritário?

O dano incrustado na harmonia nos convida a pensar que precisamos de diferença, de fricção, de estranhos, de desarmonia, de "idiotas", daqueles que não compreendemos. Precisamos de Outros, ou seja, daqueles que nos dificultam a chegar rapidamente a uma conclusão do que seria bom ou não para todxs.

De acordo com a filósofa belga Isabelle Stengers, a figura conceitual do “idiota”, proposta por Deleuze, nos faz desacelerar, abre um espaço para a hesitação diante da pressuposição de sabermos daquilo que sabemos. Stengers nos convida a pensar a igualdade não como equivalência, reciprocidade, representação, mas como garantia da presença de línguas/corpos heterogêneos. Se afastando das "boas intenções" que sustentam o desejo de um “bem comum”, nos convida a ouvir o murmúrio do idiota que diz “Há algo mais importante" e nos instiga a pensar na possibilidade de partilha de um “não sabido” constituído pelo múltiplo, pelas posições divergentes de mundo que poderiam eventualmente ser articuladas.

Há gente que se levanta sobre a cabeça, outras que andam vagarosamente e sussurram “party!”, as que suspendem e cantam “life is a mistery, everyone must stand alone”, há ainda as que apontam e riem alto, as que dublam vozes e corpos alheios, as que batem, as que arqueiam, as que bailam cheek to cheek e as que prefeririam não. Bem vindos a HARM-ONY."

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Concepção, criação e direção: Marcela Levi & Lucía Russo
Performance e cocriação: Ícaro Gaya, Tamires Costa e Lucas Fonseca
Colaboração no processo de criação: Taís Almeida e Victor Oliveira
Performance: Caroline Antônio, Fernando Vitor, Franco Maldonado, Gabriel Villas Boas, Isis Andreatta, José Urrea, Luisa Coser, Manfrin Manfrin, Martim Gueller, Monique Ottati, Thais Elvira, Tomás Braune e Yasmin Berzin
Desenho de luz: Johnatan Inostroza e Daniel Uryon
Som e Figurinos: Levi & Russo
Fotografia e video: Mila Ercoli e Isabel Ortíz
Desenhos: Lucía Russo
Produção executiva e assistência: Gunnar Borges
Direção de Produção: Carla Mullulo

Residências artísticas / Apoio: Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal de Cultura, Consulado da Argentina no Rio de Janeiro, Espaço Cultural Sítio Canto da Sabiá, NAVE (Chile), Pact Zollverrein
Coprodução: NAVE e Iberescena / Funarte
Difusão internacional: Something Great (Berlin – DE)
Produção e realização artística: Improvável Produções

Esse projeto foi contemplado pelo Fundo Iberescena / Funarte para Coprodução de criações Iberoamericanas 2018 e recebeu financiamento do Ministério da Cultura do Chile.
 

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